Luzia Santo Tomás, veterinária: "Devemos desconfiar de marcas de comida que se fazem chamar premium"

Para além do marketing, esta experiente revela as chaves para entender que há realmente por trás da cada saco ou bata de comida para mascotas

Lucía Santo Tomás, veterinaria y colaboradora Natura Diet (1)
Lucía Santo Tomás, veterinaria y colaboradora Natura Diet (1)

São um membro mais da família. Qualquer que tenha cães ou gatos conhece bem esse amor incondicional. Numa sociedade a cada vez mais preocupada pela alimentação das mascotas, chegam ao mercado multidão de marcas que prometem os melhores produtos para nossos peludos.

Consumidor Global tem entrevistado a Luzia Santo Tomás, veterinária e technical product manager em Natura Diet. A experiente adverte que o preço e os termos como premium não sempre refletem a qualidade real de um penso. Desde a frescura dos ingredientes até a digestibilidad das proteínas, a especialista sublinha que a chave está em olhar para além do marketing e entender que há realmente por trás da cada saco ou bata de comida para mascotas.

--Até que ponto o preço determina a qualidade da comida para mascotas?

--As marcas muito baratas têm que poupar em despesa e usarão matéria prima de pior qualidade ou processos menos sofisticados. No caso daquelas com preços médios ou muito altos, é difícil. Para além das importações ou o marketing, há coisas que não se percebem e que também encarecen.

Un perro con pienso / FREEPIK
Um cão com penso / FREEPIK

--Por exemplo?

--Os ingredientes. Visualmente pode ser o mesmo mas a qualidade e o valor nutricional difere muito. Pode-se pagar muito pouco ou muitíssimo por um deshidratado de carne. Depende de que índice de frescura tinha essa carne quando se fez o deshidratado. O cliente não o percebe a priori, mas sim vê se o alimento lhe senta bem ou mau a seu animal.

--Entra em jogo a ética da cada empresa…

--Há empresas que podem precisar ganhar uma margem brutal e inflam preços. Outras podem considerar que seu produto tem um preço justo. Às vezes, a gente pensa que quando paga muitíssimo por um alimento está a pagar qualidade e não sempre é assim.

--Muitos consumidores optam por preparar em casa a comida para sua mascota. Neste sentido, o penso é o novo ultraprocesado odiado?

--Total. É a maravilha e o perigo do marketing. Há muita desinformación, sobretudo em redes sociais. Partindo da base de que é vital oferecer uma alimentação variada a nossos animais de companhia, quando os fabricantes fazemos comida devemos pensar que só vão comer isso. Depois a cada um pode o fazer melhor ou pior.

--Há marcas de penso para animais que são péssimas…

--Teve uma temporada na que se fizeram muito mau as coisas com o penso e saíram diferentes marcas aproveitando essa crise de integridade. Quem decida dar uma dieta BARF (Biologically Appropriate Raw Food ou Alimentação Crua Biologicamente Apropriada) a sua mascota, deve recorrer a um profissional e conhecer os riscos que tem. Não todos os animais nem todos os meios familiares são adequados para esta dieta. Não obstante, isto não significa que tenha que enterrar o penso.

--Por que?

--Porque há mil maneiras de fazê-lo. Pode-lo fazer com uma qualidade de ingredientes muito boa e cuidar muito os nutrientes ou podes fazê-lo muito mau, com ingredientes muito baratos.

--Natura Diet tem sacado uma nova nova faixa de comida para gatos, Cat Paté, que destacaria dela?

--Quando desenvolvemos uma receita temos em conta a evolução dos animais e a origem de sua alimentação. No caso dos gatos adaptamos a dieta ancestral a sua situação atual. E isso é o que temos feito com a nova faixa de batas. Os gatos são carnívoros estritos. Em tua casa não vão comer presas, então há que imitar esse perfil.

 

--Que benefícios tem contribuir comida húmida aos felinos?

--O bom do alimento húmido é que se parece muito ao que é uma presa. Bata-las de Natura Diet estão desenhadas para contribuir muita hidratación e proteínas de carnes e pescados com muito bom índice de frescura. Temos elaborado receitas completas e complementares. A ideia é utilizar essa alimentação húmida para ajudar-lhes na cada etapa.

--Poderia dar algum truque para entender a etiqueta da comida para mascotas?

--Para começar, não nos temos que fiar nunca das autodenominaciones como 'premium', 'super premium' ou 'ultra premium'.

--Por que?

--É uma etiqueta que não está legislada e a cada um pode dizer o que queira. Na União Européia temos uma legislação de etiquetado de alimentos para animais de companhia que é a que cumprimos todas as empresas que fabricamos na UE, mas não é a mesma que a que seguem marcas norte-americanas, por exemplo.

--Poderia detalhar um pouco mais?

--A típica frase 'sem subprodutos animais' tem entrado muito na mente do consumidor, mas os norte-americanos têm uma definição diferente do que é subproduto animal.

--Qual é a diferença?

--Em Europa, subproduto animal é todo o que prove/provem de animal mas se descartou para consumo humano e entra numa empresa de pet food, que é a que fabrica alimentos para animais de companhia. De modo que em Europa nenhuma marca pode dizer que não leva subprodutos animais. Outra coisa é que tipo de subprodutos animais utiliza. Nossa legislação é, em certos aspectos, mais exigente que a de outros países.

 

--Algumas marcas destacam a percentagem de ingredientes, é opcional?

--Obrigatoriamente há que declarar proteína bruta, gordura bruta, fibra bruta, cinzas e, em função do alimento, também a humidade. Os ingredientes devem-se declarar de maior a menor presença na receita. De um tempo a esta parte, todos os especificamos mas dantes ninguém o fazia porque o consumidor não se preocupava muito de ler a etiqueta. Agora, as marcas nos preocupamos por transmitir a qualidade de nossos ingredientes através da composição da etiqueta. Mas é um arma de duplo fio.

--Por que?

--Quanto mais llamativa é a informação numérica do saco, mais atento tens que estar para a entender. Não é o mesmo a percentagem que aparece na composição que as percentagens que aparecem no epígrafe de componentes analíticos. Há gente que confunde os ingredientes de origem proteico com a proteína bruta. Mensagens no saco como '90% de proteína' convidam a pensar que leva um 90% de proteína bruta. No fundo, o 90% é de proteína animal.

--Mas às vezes aparece a percentagem e outras não.

--O regulamento de etiquetado da União Européia (767/2009) diz que se realças algum ingrediente, já seja no nome do produto ou numa foto, obrigatoriamente deves indicar a percentagem na composição. Por exemplo, em Natura Diet Fish and Encrespe, devemos indicar a percentagem de arroz e pescado. O ideal seria não pôr nenhuma percentagem porque, francamente, gera muita mais confusão ao consumidor. É uma penúria o do etiquetado. Há que ser críticos, comparar muito, não se deixar levar por mensagens muito decoradas e consultar ao fabricante se se tem qualquer dúvida.

--Mas há alguma percentagem óptima que possa servir como referência?

--O ideal para cães e gatos é que os dois primeiros ingredientes do produto sejam proteínas. Saber quanto é pouco ou muito depende do animal e do tipo de proteína. São conceitos importantíssimos mas que não se manejam nos sacos de penso. Pode estar a pagar muito dinheiro por uma proteína que o animal não está a aproveitar. Há que assegurar de que tenha boa digestibilidad, porque não interessa tanto a quantidade como a qualidade. Podes estar a comprar uma alta percentagem de proteína bruta mas se a digestibilidad é baixa, o animal vai-a a defecar. Não é quanto mais melhor.