Shein, Temu e o imposto de 2 euros por pacote que baralha a Comissão Européia

Bruxelas planea reformar sua política aduaneira para enfrentar o auge de compra-las de baixo custo fora da União Européia

El comisario europeo de Comercio, Maros Sefcovic, comparece ante los medios de comunicación   OLIVIE
El comisario europeo de Comercio, Maros Sefcovic, comparece ante los medios de comunicación OLIVIE

A Comissão Européia estuda implantar um novo imposto de 2 euros por pacote a compra-las realizadas a plataformas de baixo custo extracomunitarias, como as chinesas Shein e Temu.

Esta medida se enmarca numa reforma profunda da política aduaneira européia com a que Bruxelas procura adaptar o mercado comum ao "crescimento dramático" destas importações nos últimos anos.

"Não devem se ver como um imposto"

O comissário de Comércio e Segurança Económica, Maros Sefcovic, tem confirmado durante um debate na comissão de Mercado Interior do Parlamento Europeu que se trata de uma "taxa de gestão" cuja intenção é que recaiga sobre as plataformas de comércio eletrónico e não sobre o consumidor final.

Shein y Temu / GOOGLE
Shein e Temu / GOOGLE

"Seria sobre os 2 euros por pacote", tem detalhado Sefcovic, quem tem sublinhado que "não deve se ver como um imposto, sina como uma tarifa para compensar os custos administrativos", que ademais "deveria ser paga pela plataforma".

Um aluvión de pacotes sem imposto

O anúncio produz-se num momento no que a União Européia se vê desbordada pela avalanche de pedidos que chegam desde plataformas asiáticas. Segundo dados da própria Comissão, só em 2024 entraram no território comunitário uns 4.600 milhões de pacotes de baixo custo, o que equivale a uma média de 12 milhões de envios diários que não pagam impostos por estar valorizados por embaixo dos 150 euros.

O regime atual, que exime de encargo a estas importações de escasso valor, tem contribuído ao auge de plataformas como Shein e Temu, que oferecem produtos a preços muito competitivos e com envios ultrarrápidos, desafiando tanto ao comércio tradicional como aos grandes actores do e-commerce europeu.

Uma reforma pendente desde faz dois anos

Pese a que ainda não há uma proposta legislativa formal sobre a mesa, fontes comunitárias apontam a que a medida faz parte de uma reforma aduaneira mais ampla que Bruxelas quer reactivar depois de dois anos de estancamento. Entre os eixos da reforma encontram-se a eliminação da isenção fiscal para pacotes inferiores a 150 euros, o reforço do controle aduaneiro, uma maior coordenação entre Estados membros e a implementação de sistemas de avaliação de riscos mais eficazes.

Sefcovic tem reconhecido que esta "taxa de gestão" é "só o início do caminho", mas tem apontado que, de se aplicar, poderia supor até 3.000 milhões de euros em rendimentos anuais para o orçamento comum da União Européia, já que arrecadar-se-ia como qualquer outro imposto.

Mais controle e menos ónus para as aduanas

Para além do impacto económico, a Comissão também procura aliviar a pressão que sofre o pessoal aduaneiro nos Estados membros. "O facto de que tenhamos este grande número de pacotes chegando também representa um grande ónus para o trabalho dos servidores públicos nas aduanas", tem explicado Sefcovic, justificando assim a necessidade de estabelecer um sistema de taxas que cubra os custos operativos.

O debate sobre como gravar as compras trans-fronteiriças de baixo custo reflete o crescente choque entre a globalização digital e as estruturas fiscais tradicionais, e abre um novo frente na tentativa da União Européia por equilibrar a concorrência e a sustentabilidade económica sem prejudicar ao consumidor final.