Conhecendo ao 'guerreiro de fim de semana' no contexto da actividade física

Muitas pessoas concentram a maior parte de sua actividade física desportiva no fim de semana, mas é o mesmo fazê-lo de modo que de forma mais continuada? Existem riscos para a saúde? Que sabe a ciência sobre os 'weekend warrior'?

O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING
O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING

A expressão é praticamente desconhecida em espanhol, mas, no âmbito anglo-saxão, o termo weekend warrior —literalmente 'guerreiro de fim de semana'— utiliza-se amplamente para descrever àquelas pessoas que concentram toda ou quase toda sua actividade física nos dias do fim de semana, enquanto mantêm um estilo de vida maioritariamente sedentario o resto do tempo. Não obstante, o conceito em si mesmo é de sobra conhecido por todo mundo. E é que, já seja por motivos trabalhistas, familiares ou de qualquer índole, nossas agendas costumam estar mais apertadas que as portas de um submarino, de maneira que só fica aproveitar as escassas janelas de oportunidade para fazer uma verdadeira actividade física que, habitualmente, se concentra nuns ou dois dias a cada semana.

Sabendo da importância que tem a realização de actividade física na saúde, este comportamento tem atraído não pouca atenção científica, e inclusive consideração em políticas de saúde pública e recomendações internacionais. Tanto é de modo que, a dia de hoje, existe um número significativo de publicações científicas que abordam este tema.

Os benefícios de treinar só o fim de semana (se não há outra alternativa)

A maioria de estudos são coincidentes à hora de valorizar os efeitos de repartir a actividade física de intensidade moderada ou alta entre um ou dois dias, em frente ao fazer em três ou mais dias por semana: não há diferenças significativas na mortalidade nem na saúde cardiovascular entre quem se ejercitan concentradamente os fins de semana e quem o fazem de forma regular, desde que o volume total semanal alcance os 150 minutos.

Mas os benefícios vão para além —bem mais lá— da questão cardiovascular. Uma análise que implicou o rastreamento durante 6 anos a para perto de 90.000 adultos encontrou que tanto os weekend warrior como as pessoas que realizavam actividade física com mais regularidade reduziram o risco a mais de 200 doenças, entre elas hipertensión (23 %), diabetes (43 %), obesidad, apnea do sonho e múltiplas condições de saúde mental ou digestiva.

Por tanto, tal e como coincidem a imensa maioria das publicações, a chave não é a distribuição temporária da actividade física, sina atingir um volume mínimo de actividade física segundo as pautas internacionais. Neste contexto, a OMS recomenda que todos os adultos realizem ao menos 150 a 300 minutos semanais de actividade física de intensidade moderada, ou 75 a 150 minutos semanais de actividade física vigorosa, ou uma combinação equivalente de actividade física aeróbica de intensidade moderada e vigorosa.

Qualquer actividade física é melhor que nenhuma, mas com cuidado

Apesar dos benefícios, os desportistas de fim de semana também têm sido objeto de estudo devido a certos efeitos adversos. Mais especificamente as lesões, que dependerão da prática desportiva realizada. Assim, não é infrequente que os weekend warrior tenham mais lesões musculoesqueléticas de mão, boneca, cotovelo, ombro, tornozelo, joelho, cadera... dependendo da disciplina que pratiquem. Para isso há que ter em conta certas circunstâncias que poderiam incidir com maior frequência nos desportistas de sábado e domingo:

  • Sobrecarga repentina sem progressão: se não há uma especial adaptação a esforços relativamente intensos se incrementa o risco de danos musculares, tendinosos ou inclusive fracturas por estrés.
  • Ao mesmo tempo, é possível que também coincida uma falta de aquecimento ou preparação prévia.
  • Por último, há que assinalar que muitos weekend warrior são adultos maiores e com base sedentaria. Um coletivo que concentra um maior risco de lesões.

Por todo isso, num conselho que vale para qualquer desportista, mas com especial importância entre aqueles que fazem exercício de forma mais esporádica, se recomenda encarecidamente:

  • Treinar com cabeça: não se obsedar e não tratar de incluir numa sozinha sessão todo o que não se fez em seis. Se pode-se repartir, é melhor repartir. Há que ter em conta que, se se produz uma lesão, esta nos pode deixar no dique seco bastante mais de uma semana, dependendo do tipo de lesão.
  • Adaptar a actividade física às circunstâncias, já seja pela habilidade, flexibilidade, e intensidade que a cada qual pode assumir.
  • Estabelecer uma rotina com uma progressão gradual, em especial se retoma-se a actividade desportiva depois de um parón.
  • Realizar um aquecimento completo e específico dantes da cada sessão.
  • Depois do exercício, é recomendável realizar uma volta a acalma-a ou fase de enfriamiento para favorecer a recuperação muscular.

Do que não cabe nenhuma dúvida é do potencial benéfico que tem a prática desportiva na saúde geral. De modo que o melhor é amoldarse à agenda da cada um e praticar aquela actividade que melhor se adapte a nossas circunstâncias.