A Justiça condena a AllZone por vender um móvel Samsung falso

A sentença soma um novo capítulo ao controvertido historial da loja on-line, fundada por Pablo Moscoloni, que segue operando pese às denúncias de OCU, Facua e milhares de consumidores

Un 'courtroom sketch' del juicio de AllZone   CONSUMIDOR GLOBAL IA
Un 'courtroom sketch' del juicio de AllZone CONSUMIDOR GLOBAL IA

A justiça tem sentenciado as práticas de All In Digital Marketing, S.L., a sociedade por trás da loja on-line AllZone. O Julgado de Primeira Instância Nº 5 de Alcobendas tem condenado à companhia a restituir o custo íntegro (584,59 euros) de um Samsung Galaxy S22, mais interesses e costa do julgamento, depois de acreditar-se que o móvel vendido como novo tinha sido manipulado e não era um produto oficial do fabricante.

Este veredicto é a confirmação judicial de um padrão de conduta que Consumidor Global leva documentando desde o passado mês de março. Este meio não só tem dado luz às mais de 1.197 reclamações de afectados por entregas frustradas ou reembolsos negados, sina que também tem posto no ponto de olha a seu CEO, Pablo Moscoloni, cujo historial empresarial revela a repetição de padrões análogos em empresas anteriores.

Dispositivos manipulados e falsificados

A sentença chega num contexto de crescente escrutinio sobre AllZone, já denunciada por Facua e a Organização de Consumidores e Utentes (OCU) por seu abultado historial de reclamações. Cabe recordar que este meio revelou que a companhia chegou a ameaçar com uma demanda de 80.000 euros a um cliente que contou sua má experiência na rede social X.

El CEO de AllZone Pablo Moscoloni / LINKEDIN - CG
O CEO de AllZone Pablo Moscoloni / LINKEDIN - CG

Agora, AllZone tem sido levada a julgamento por comercializar dispositivos manipulados e falsificados, como tem evidenciado o caso de Jorge Fernández.

O caso

A disputa legal deste caso originou-se no verão de 2023, quando Fernández, o demandante, adquiriu um móvel Samsung Galaxy S22 que apresentou falhas técnicas às 24 horas de sua recepção. "Não tinha nenhuma ideia de que actuassem de má fé. Nesse ano não tinha um número de queixas como agora e me confiei", relata a Consumidor Global.

Ao reclamar, a resposta de AllZone consistiu em propor um procedimento de garantia que, segundo o afectado, demorar-se-ia para perto de três meses.

Um móvel Samsung manipulado

Ante esta dilación, o cliente optou por ir a um serviço técnico oficial de Samsung para agilizar o diagnóstico. Foi em dito centro onde se revelou a natureza do problema.

Um relatório pericial do próprio fabricante concluiu que o dispositivo não era original. Especificamente, o código QR da placa baseie não se correspondia com os registros de Samsung, o que indicava que o móvel tinha sido manipulado e, por tanto, a garantia ficava invalidada.

A teia de aranha de mentiras e um provedor fantasma

Com esta prova documentária, Fernández solicitou a AllZone a resolução do contrato e a devolução do custo abonado. Mas, longe de assumir sua responsabilidade, iniciou uma estratégia evasiva. Depois de reter o telefone durante vários meses, a empresa enviou um correio eletrónico ao cliente no que afirmava que o telefone tinha sido "substituído". Anexavam um relatório de um provedor alemão chamado Yukatel.

"Eu traduzi o relatório em alemão de uma loja não oficial (Yukatel) e não certificava uma substituição, sina uma mera actualização de software", denúncia Fernández em referência à mentira de AllZone. Ademais, o provedor carecia de homologação oficial por parte de Samsung, um facto que foi confirmado por escrito pelo departamento legal do fabricante a instâncias do demandante: "Yukatel não pertence a Samsung nem tem nada que ver conosco. Nem em Espanha, nem em Europa, nem em Estados Unidos".

AllZone não se inteira de que vai o julgamento

Dois anos depois, o passado 18 de setembro celebrou-se o julgamento que pôs de manifesto a debilidade da defesa de AllZone. "Eu pensava que me iam a desplumar, pois não tenho formação jurídica", confessa Fernández. Mas a realidade foi muito diferente.

Una vista de la web de Allzone / CG
Uma vista do site de Allzone / CG

O primeiro movimento dos advogados de AllZone foi sacar o telefone e pôr sobre a mesa, oferecendo-lho ao demandante. Segundo Fernández, a reacção da magistrada foi fulminante: "Mas vocês não vos inteirastes de que vai este julgamento? Não sabeis que o cliente não pede o telefone, sina que vos está a demandar porque quer o custo após que lhe tenhais vendido um telefone manipulado?".

A sentença: "Tenho ganhado"

A partir daí, a defesa de AllZone se desmoronó. A juíza desestimó os argumentos da empresa, que tentou contrapor o relatório não oficial de Yukatel à prova pericial do fabricante. Assim mesmo, segundo o depoimento de Fernández, a juíza questionou com severidad a pretensão da companhia de usar seu volume de facturação como argumento exculpatorio.

Fernández descreve a este meio que saiu do julgamento com a sensação de que a defesa de AllZone tinha sido "uma chorrada de argumento", "muito pouco preparada" e com uma "capacidade de argumentación muito básica". O 26 de setembro, a sentença do Julgado de Primeira Instância Nº 5 de Alcobendas deu-lhe a razão. "Tenho ganhado", informa o afectado.

O que confirma a falha judicial

A sentença, à que tem tido acesso Consumidor Global, é firme e contundente. A magistrada estima integralmente a demanda e condenação a All In Digital Marketing, S.L. a devolver a Jorge Fernández os 584,59 euros, mais os interesses e a costa do julgamento.

A falha judicial confirma, ponto por ponto, a versão do cliente:

  • Fica acreditado que o telefone "apresentou defeitos de forma quase imediata" e, o que é mais importante, que "o terminal adquirido não respondia àquele que cria o demandante estar a adquirir", baseando no relatório de Samsung que certificava que "o QR da placa não pertence ao registado em Samsung, que o terminal está manipulado e não é oficial".
  • A sentença desmonta a defesa de AllZone, assinalando que em frente às provas do demandante, a empresa "se limita a negar que Yukatel não seja serviço oficial de Samsung".
  • A juíza critica que os prazos e actuações de AllZone "dilatan no tempo uma solução razoável", impedindo de facto o direito do consumidor a desistir da compra.

Depois da falha, a juíza aponta: "Notifique-se esta resolução às partes fazendo-lhes saber que é firme e que contra a mesma não cabe formular recurso algum. Disponho que se leve esta sentença ao Livro de Sentenças deste julgado, deixando certificação do mesmo nas actuações e que se tome oportuna nota nos Livros-Registo".

AllZone não se pronuncia ao respeito

Consumidor Global pôs-se em contacto com AllZone, mas a empresa tem decidido guardar silêncio, tal como tem ocorrido em outras ocasiões recentes. Enquanto, sua loja on-line segue funcionando e as denúncias de novos afectados não deixam de crescer.

Este veredicto, conquanto supõe uma vitória crucial para um consumidor, não parece ter alterado a operativa da empresa de Pablo Moscoloni. Longe de cessar, as queixas contra AllZone continuam chegando à redacção deste meio, descrevendo um panorama que evolui para práticas de maior gravidade. Às já conhecidas denúncias por produtos não entregados e reembolsos bloqueados, se somam agora irregularidades de maior calado, como a venda de material não original destapada neste processo. "Quiçá a outros utentes falha-lhes o telefone e nunca sabem que foi por ser falso. Enviam-lho a AllZone, dão-lhes outro oficial e passa desapercibido", conclui Fernández.