Para Adidas "nada é impossível", excepto reembolsar 600 euros depois de médio ano
A marca desportiva retém desde julho a devolução de um cliente e confessa que há uma falta de comunicação entre "atenção ao cliente e o armazém"
Em 1954, sobre a grama embarrado do Wankdorfstadion de Berna (Suíça), a selecção alemã de futebol fez um milagre contra a Hungria de Puskás. Aquela vitória na final da Copa Mundial da FIFA, teve um artífice discreto chamado Adi Dassler.
As previsões anunciavam chuva durante a final. Por isso, o fundador de Adidas –chamada assim por Adi, diminutivo de Adolf, e dás, primeira sílaba de sua apellido– ofereceu à equipa umas botas com tacos intercambiáveis que permitiam agarrar à superfície baixo qualquer condição climática. Assim nasceu a lenda da marca desportiva e sua eslogan, que prometia que "nada é impossível". No entanto, mais de sessenta anos depois, há algo que sim parece impossível: conseguir um reembolso.
Cronología de um reembolso
O 14 de julho de 2025, Ricardo M. foi a um escritório de Correios para iniciar o procedimento correto para devolver um pedido volumoso de 29 artigos, valorizados em 548,54 euros comprado a Adidas. O 16 de julho, o sistema de rastreamento confirmou a entrega nos armazéns da empresa. Inclusive a própria marca, num correio datado o 25 de julho –ao que tem obtido acesso Consumidor Global–, reconheceu a recepção e assegurou que "tudo se está a solucionar como corresponde".

No entanto, desde agosto até dezembro, Adidas tem pedido ao cliente em "múltiplas" ocasiões o mesmo comprovante de envio que já tinha remetido. Ricardo reenviava-o; os agentes respondiam que pesquisariam. Dias depois, outro agente voltava a solicitar o mesmo documento.
Adidas confessa uma "falta de comunicação"
Durante estes meses, Adidas tem oferecido versões contraditórias. Primeiro negou ter recebido o pacote (contradizendo sua própria confirmação de julho), depois alegou desconhecer a devolução, depois afirmou que o reembolso estava em processo e, finalmente, admitiu a recepção, mas voltou a pedir o comprovante de envio uma vez mais. Ante a ineficacia da marca, Ricardo assinala a este meio que se viu obrigado a notificar sua intenção de interpor uma reclamação formal e ordenou a seu banco (ING) a devolução dos recibos para tentar recuperar seu dinheiro.
Cabe destacar que o 13 de agosto, Ricardo contactou telefonicamente com Adidas. Segundo o afectado, a operadora que lhe atendeu ofereceu uma confesión e admitiu uma "falta de comunicação e de interoperabilidade de dados entre o serviço de atenção ao cliente e o armazém". "Tudo isto supõe um desgaste psicológico enorme", lamenta o afectado, que observa como o lema "Impossible is nothing" perde qualquer significado quando Adidas é incapaz de lhe devolver quase 600 euros retidos durante quase médio ano.
Nos dias vão somando
Desde princípios de novembro, Ricardo publica em sua rede social X um conteo diário da ignominia, etiquetando à marca e ao Ministério de Consumo: "Dia 22 desde o que se denuncia a Adidas por não proceder ao reembolso de um pedido devolvido em julho por valor de uns 600 euros. Serviço de atenção ao cliente lamentável que segue sem resolver o assunto após quase médio ano".

As mensagens vão somando dias, mas a situação não muda.
Adidas guarda silêncio
Como pode um pedido confirmado como recebido por Adidas o 25 de julho seguir sem reembolso quase médio ano depois? Consumidor Global tem contactado com Adidas para solicitar uma explicação oficial. Não obstante, ao fechamento desta edição, a resposta da marca tem sido o silêncio.
O legado de Adi Dassler, quem fundou Adidas em 1949 sobre a premisa da atenção obsesiva ao detalhe, tem-se desdibujado. Adidas nasceu para eliminar a possibilidade de erro no desporto. Hoje, seu sistema falha ao processar uma simples devolução de 548 euros. O caso de Ricardo M. demonstra-o. A empresa que ensina que "Impossible is nothing" tem convertido sua própria obrigação com o cliente numa tarefa inalcanzable.

