As vítimas da santería alertam: venda de ayahuasca, sacrifício de animais e fraudes em Madri
A celebração de uma Feira Esotérica na estação de Chamartín dispara os alarmes da Associação de Vítimas de Santería, que pede maior concienciación e envolvimento das autoridades

"Consulta séria, confidencial e transformadora". "Ajudamos-te a resolver tuas inquietudes com seriedade e compromisso". "Serviços de videncia económicos, sérios e de confiança". "Desde menina sempre tenho estado muito vinculada com o mundo espiritual". Estas frases, sacadas de diferentes publicações de Milanuncios, tratam de atrair a pessoas que se sentem desorientadas, tristes ou directamente desesperadas.
São reclamos para sedentos cuja trascendencia não deveria se ignorar: o tarot pode ser a primeira baldosa de um caminho pelos perigos do esoterismo que pode resultar fatal. Os estafadores que explodem este complexo conjunto de crenças e superstições oferecem soluções rápidas e garantidas a problemas graves que não têm soluções mágicas. Prometem curar doenças, trazer de volta a um amor perdido, multiplicar o dinheiro ou desfazer maleficios impossíveis. Todo isso, baixo a neblina da desregulamentação e a costa dos bolsos de pessoas que se convertem em vítimas.
Santería e substâncias ilegais
O terreno é especialmente pantanoso quando se fala de santería, uma religião afrocaribeña sincretizada com elementos do catolicismo que, para alguns, é uma fé e uma forma de ligar com o divino. Na Associação de Vítimas de Santería são muito conscientes disso, e levam tempo alertando desta marca que não só inclui charlatanes, sina práticas incivilizadas e perigosas.

Algumas se cuelan pelas rendijas do esotérico, um conceito nebuloso que não é mau per se, mas com o que convém permanecer alerta e com boas doses de cepticismo. Assim, a Associação tem denunciado recentemente a celebração de uma Feira Esotérica na estação de Chamartín (Madri) na que participavam santeros que comercializam substâncias ilegais, como a ayahuasca.
"Nenhum controle sanitário"
"O que fazemos é denunciar o que ocorre nas lojas de santería e também o que tem ocorrido na Feira Esotérica", conta a este meio Victoria Vélez de Guevara, presidenta da entidade. "Temos denunciado em Madri 21 lojas, e a Polícia já tem intervindo em 15 delas". Nestes locais comercializam-se ervas que não têm "nenhum controle sanitário", sementes (algumas altamente tóxicas, como a peonía) e, em alguns casos, restos de animais.
Os estabelecimentos localizam-se maioritariamente nos bairros do sul da capital, mas o problema permea em toda a sociedade. "Qualquer pode ser vítima", responde Vélez perguntada pelo perfil dos afectados. "Qualquer que atravesse um momento difícil em sua vida e seja vulnerável. Não há um perfil claro, porque os encontras de todos os âmbitos sociais. Procuram aproveitar-se de vulnerabilidades, do desespero de uma pessoa, sobretudo por questões de saúde: gente muito doente que não encontra solução e se agarra a um prego ardendo", conta.

Actividades clandestinas
Vélez acha que às vezes se frivoliza com estes temas, que podem levar à ruína a uma pessoa ou causar profundas feridas emocionais. "Há muitíssimo desconhecimento. Precisamente como é algo secreto, que se faz de maneira clandestina, há quem não conhecem nada".
A sua vez, esta falta de transparência e de informação também provoca que algumas vítimas se sentam desabrigadas quando reúnem a coragem necessária para denunciar: "Às vezes nem sequer tomam-lhes em sério na Polícia. Onde se supõe que lhes vai amparar, se encontram com que quase se riem deles".
Superstições, a porta primeiramente
Começa-se, relata a presidenta da Associação, com "poquito". Algo tão aparentemente frívolo como o tarot, o pau santo ou um remédio herbal pode ser a porta primeiramente a um torque de despesa inútil que pode culminar com rituales perigosos com sacrifícios animais. "Na santería aproveitam-se de qualquer superstição. Isso te pode levar a comprar pequenas coisas, a levar uma série de amuletos… Algo banal ao que quase não lhe dás importância te pode conduzir a um mundo do mais escuro", reflexiona.

"A gente que nos chama nos contou mil dramas", relata. A julgamento de Vélez, Madri é onde mais lojas há, mas também conhecem muitos afectados de Canárias, Valencia, Galiza… "Em toda Espanha, a verdade".
Cumprir a lei
Quanto à forma de atalhar este problema, esta experiente argumenta que existem leis que poder-se-iam fazer cumprir. "Qualquer produto que se distribua numa loja tem de ter um etiquetado no que se especifica que é, de onde vem, qual é sua data de caducidad.. Isso se incumpre totalmente em todas as lojas de santería e esotéricas", relata.
Como nota positiva, reconhece que agora, a força de denúncias, as autoridades têm desenvolvido alguma acção de prevenção.

Os 'orishas' e o sacrifício de animais
Mas é um caminho lento e cheio de interrogantes. Quando se fala de santería, a figura à que há que prestar atenção é à dos orishas, as personalidades que interactúan entre este mundo e o seguinte.
Para que os orishas intercedan por um e lhe ajudem no plano económico, amoroso ou sanitário, há que "lhes dar de comer". E isso se traduz em lhes outorgar fruta, verdura… E carne. "Sacrificam animais: uns orishas preferem aves, outros animais de quatro patas, como cães ou gatos… Utilizam todo o tipo de animais. Sabemos que há até quem têm mataderos clandestinos", denúncia Vélez.
Maltrato animal documentado
Tal e como expôs a Associação em suas redes, leva anos "documentando casos de maltrato com detalhe, incluindo datas, lugares, horas e provas fotográficas ou videográficas e apresentando denúncias ante as autoridades competentes. No entanto, a resposta institucional tem sido, na prática, inexistente".

Para complicar ainda mais as coisas, quando algumas vítimas se dão conta de que têm caído num engano e lho jogam em cara ao falso experiente que lhes defraudou, este pode recorrer às ameaças para que lhe continuem pagando. Por isso, Vélez põe o acento na importância de rastrear a traçabilidade dos pagamentos.
Um negócio que move muito dinheiro
As formas de captación de vítimas são diversas. "Faz-se tanto através de internet como de forma presencial. Têm até uma rádio própria, e depois há lugares concretos, como certas peluquerías ou centros de estética onde te podem derivar a um lugar destes. Não sê se entre uns e outros há comissões, mas o verdadeiro é que se move muitíssimo dinheiro", expõe Vélez.
O número de afectados em toda Espanha é impossível de calibrar, mas esta experiente estima que são legión. "Nós recebemos muitos telefonemas diários, todas igual de dramáticas". Um dos indicadores que permite saber que num lugar se estão a celebrar rituales é extremamente macabro: há quem sacam a pessoas falecidas de suas tumbas para utilizar os restos em algum ritual. "Tem tido profanaciones em Sevilla, em Toledo…", relata. Para enfrentar o problema com rigor, por tanto, faz falta arrojar luz no meio de tanta escuridão: mais informação, maior concienciación por parte da sociedade e mais recursos para combater as actividades ilegais.