Gabriel Rolón, psicoanalista, sobre o amor: "Não te apaixonas de qualquer, te apaixonas..."

Alguma vez perguntaste-te o porquê apaixonas-te de determinadas pessoas? Quiçá tu também tens experimentado o fácil que parece ligar em algumas ocasiões e o inverosímil que resulta em outras: Não é casualidade, é psicologia

Movimiento de contenedores en un puerto canario. IMAGEN DE LA RED (1500 x 1000 px)   2025 07 01T151559.648
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Esforçamos-nos por cuidar nosso corpo nesta obsesión pela vida fitness: Comemos são, fazemos exercício, vigiamos o sonho. Mas quando se trata do coração, muitas vezes vamos em automático. Não é raro cair em relações que nos doem, vínculos que nos esgotam emocionalmente, e ainda assim repetir esse padrão uma e outra vez sem poder escapar dele.

A razão? O que achamos que é amor pode não ser amor em absoluto, sina uma forma aprendida —e muitas vezes equivocada— de nos vincular. Como explica o psicoanalista argentino Gabriel Rolón: "Amar não é algo que trazemos de fábrica… a amar se aprende desde a infância".

Aprendemos a amar como vimos amar

Desde pequenos, observamos como se relacionam nossas figuras de referência —pais, mães, cuidadores— e aí começamos a formar nossa ideia do amor. Se de meninos vimos indiferença, relações desequilibradas, sofrimento ou dependência, é possível que de adultos procuremos (sem o saber) essas mesmas dinâmicas. O conhecido, ainda que doa, volta-se familiar e reconfortante.

@joseluisemociones Há uma força em nossa psiquis que nos impulsiona à dor e sofrimento. #gabrielrolón #relações #reflexion #dequienosenamoramos #psicologia #larazondevivir #joseluisemociones ♬ som original - A RAZÃO DE VIVER Oficial

Rolón explica-o com clareza numa palestra viral: "Não te apaixonas de qualquer. Apaixonas-te de alguém que tem um rasgo que já aprendeste a amar ou que devia estar em alguém para poder amar. E se viste em casa que o amor era dor, distância ou abandono, isso é o que vais procurar".

Nos enamoramos asumiendo el modelo de amor que tuvieron nuestros padres/ PEXELS
Apaixonamos-nos assumindo o modelo de amor que tiveram nossos pais/ PEXELS

Assim, terminamos elegendo relações nas que voltamos a viver o que já conhecemos: chorar como chorava mamãe, a indiferença que projectava papai, resignarnos como vimos desde meninos que faziam outros em "casal". E não porque o desfrutemos, sina porque aprendemos que isso era amar.

A armadilha da baixa autoestima

Este padrão também se reforça quando nossa autoestima está deteriorada. Se não achamos que merecemos uma relação sã, afectuosa e recíproca, aceitaremos qualquer coisa. "Por que achas que só mereces estar com alguém que te danifica?", pergunta Rolón. "Que lugar pensas que ocupas na vida do outro, se não te cries com direito a um amor que te cuide e te dê um posto de mordomia?"

Una pareja se besa en el tren / PEXELS
Um casal se besa no comboio / PEXELS

O resultado é um bucle de insatisfação emocional: relações onde nos sentimos invisíveis, ou à beira do abandono permanente. Um sofrimento que, no fundo, pensamos que merecemos. Até que o identificamos e decidimos romper o padrão.

Quando o amor se acaba (e volta)

Muitas destas relações terminam… mas não do tudo. As rupturas afectivas costumam implicar um processo de duelo: perda, frustración, raiva, sensação de falhanço. Mas em alguns casos, os casais dão-se uma segunda oportunidade. E ainda que pode soar romântico, os dados mostram outra coisa.

Estudos estimam que entre o 5% e o 10% das pessoas que se separam ou divorciam acabam voltando com sua expareja. Inclusive entre um 1% e um 3% chega a casar-se novamente com a mesma pessoa. No entanto, a maioria destas reconciliações não funciona: entre o 60% e o 70% de quem tentam-no por segunda vez voltam a separar-se.

Una persona durante una crisis de pareja/ FREEPIK
Uma pessoa durante uma crise de casal/ FREEPIK

Por que fracassam de novo? Rolón resume-o assim: "Essas duas pessoas que voltam, já não são as mesmas. Levam a marca de ter falhado juntas". A história compartilhada deixa impressão, e o que foi já não existe. "O erro é ir procurar o que já não está". Ademais, quando tem passado muito tempo entre a ruptura e a reconciliação, costuma ter novas experiências, vínculos e feridas que influem. Ainda que achemos que voltamos ao mesmo ponto, o verdadeiro é que todo tem mudado.

Como sanar este tipo de vínculos?

Romper com os padrões daninhos de amor requer consciência e trabalho interior. Perguntar-te que tipo de amor aprendeste, como viveste o afecto em casa, e daí crenças arrastas sobre o que mereces. Não é fácil, mas é liberador.

Algumas chaves para começar:

  • Revisar teus vínculos passados: Que se repetia? Que te fazia dano?

  • Questionar tuas ideias sobre o amor: Achas que o amor sempre dói? Que há que lutar para o merecer?

  • Trabalhar teu autoestima: Não é um cliché. Sentir-te digno de um amor são, muda tua forma de eleger.

  • Procurar ajuda profissional: Um processo terapêutico pode ajudar-te a resignificar tua história emocional.

Porque o amor não deveria ser um campo de batalha. Aprender a amar desde outro lugar —um onde o respeito, o cuidado e a reciprocidad sejam a base— é possível. E também é parte de teu bem-estar.