Água do grifo e pedras no riñón: desmentindo o mito da dureza

Poucos mitos há tão arraigados como aquele que sustenta que a dureza do água influi na litiasis renal. Sobre o papel, e se parte-se de uma informação sesgada, poderia parecer uma consequência lógica, mas a ciência tem desmentido esta relação

O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING
O dietista e nutricionista Juan Revenga dá conselhos dietéticos / CG PHOTO SHOTING

Se os cálculos que se formam no riñón são de oxalato ou fosfato cálcico, contribuir mais "matéria prima", mais calcio, facilitará a litiasis renal. Se ademais temos em conta que a dureza do água se deve à concentração de minerales dissolvidos, em especial calcio, e se por último sabemos que os electrodomésticos (lavadoras e lavaplatos) têm mais avarias por acumulação de cal quando trabalham em zonas onde o água é mais dura, então, a equação só —parecesse— ter um único resultado: beber águas duras, incrementará o risco de formação de cálculos renales, sim? Pois não. Vamos por partes.

Há infinidad de cálculos renales e não todos implicam ao calcio

Conquanto é verdadeiro que a maior parte dos cálculos renales são de oxalato e fosfato cálcico (se estima que meio ao 75% de todos os casos de litiasis renal), há outros cálculos de muito diversa natureza nos que o calcio não faz parte de sua composição. Os mais habituais após os já citados estão formados por ácido úrico, cistina (um aminoácido) ou estruvita (fosfato amónico magnésico). Ademais, outras substâncias, tanto presentes nos alimentos como em certos medicamentos, podem facilitar a formação de cálculos. Para todos os casos, já seja litiasis de uma classe ou outra, existe uma predisposición genética que, sem ser o único factor, esta característica costuma ser muito influente à hora de terminar por desenvolver pedras no riñón.

A dureza do água

A dureza do água deve-se principalmente à presença de sais compostos, tipicamente, por calcio e magnésio. Com estes minerales formam-se carbonatos, bicarbonatos e sulfatos. Quantas menos salgues tenha, mais macia será dita água e quantas mais, mais dura. Não obstante, a quantidade de calcio nas águas potáveis mais duras é bastante inferior à quantidade de calcio presente ao leite e similar à que tem um zumo de laranja. Dito de outra forma: as águas com muito calcio, têm pouco calcio se comparamo-lo com outras bebidas sobre as que pouco ou nada se costuma advertir em relação com o risco de formar cálculos renales. Para que te faças uma ideia, um copo de água muito dura pode contribuir uns 30 mg de calcio; um de leite, uns 240 mg. As cifras falam por si sozinhas.

Em realidade, a dureza da água potável tem que ver muito com suas qualidades sensoriales, a maior dureza pior sabor. O mesmo que sucede com a presença de cloro com a que se costuma tratar o água para potabilizarla.

Por outro lado, sobre a questão dos electrodomésticos, só cabe argumentar que nós não somos nem lavadoras nem lavaplatos nem calderas, e que os processos pelos que estes electrodomésticos podem acumular cal, são totalmente diferentes à fisiología animal. Se funcionássemos de maneira similar, bastaria tratar aos pacientes com pedras no riñón com Viakal ou bebendo vinagre... e, como imaginarás, nossa fisiología não responde a estes apaños como o faz a caldera de tua cozinha.

Que diz a ciência?

A quantidade de estudos científicos que têm abordado a adequação de umas ou outras águas para a prevenção e, chegado o caso, o tratamento de pacientes com litiasis renal, não é pequena.

Se eras dos que pensavas que o que sucedia em teu caldera poderia explicar o de tuas pedras no riñón não te culpo, porque também a ciência tem evoluído com respeito a estas questões:

  1. Enfoques antigos (anos 60-80): associação supostamente direta: Os primeiros estudos ecológicos e observacionales sugeriam uma relação entre o consumo de água com alto conteúdo em calcio e uma maior prevalencia de cálculos renales. Aqueles estudos tinham importantes limitações metodológicas: não controlavam bem os factores de confusão (dieta, genética, hidratación total e doenças metabólicas entre outras). Então assumiu-se que mais calcio ingerido implicava mais risco de litiasis, sem diferenciar as diferentes fontes alimentares, sua biodisponibilidad nem ter em conta outros factores.
  2. Melhor enfoque e estudos (anos 90-2000): Estudos mais sofisticados mostraram que o calcio no água não sempre se traduz em maior calcio na urina de forma significativa. Também se observou, e este matiz é importante, que a água dura também costuma incluir magnésio, que tem efeito inhibidor sobre a cristalización do oxalato cálcico, o principal tipo de cálculo renal. Por tanto, começou a valorizar-se mais a proporção Ca/Mg, a quantidade de líquido total, a genética e o contexto dietético completo.
  3. Conhecimento moderno (2010 em adiante): Revisões sistémicas como a de Sulaiman et a o. (2020) com um rastreamento dos estudos realizados com este tema nas últimas três décadas, têm consolidado a mensagem atual: "Não existe evidência suficiente para afirmar que o consumo de água dura esteja associado com um maior risco de formação de cálculos renales, e não deve se recomendar o uso de água macia com este propósito".

Pois meu médico diz o contrário

Se teu médico diz o contrário do exposto neste texto, pede-lhe as provas. Ainda que se queres poupar-te o trâmite, o melhor é que mudes de médico e procures um mais actualizado. Se é teu cuñado o que te leva a contrária, dize a teu irmão ou irmã que mude de casal, também por outra mais actualizada.

Para que não te fiquem dúvidas sobre a questão dos cálculos renales tomada nota destes conselhos:

  • A predisposición genética desempenha um papel importante no risco de desenvolver qualquer tipo de pedras no riñón.
  • A natureza destas pedras é importante para determinar seu tratamento e assumir medidas preventivas ou, quando menos de redução do risco.
  • Naqueles cálculos em cuja composição intervém o calcio (oxalato e fosfato cálcico) o calcio dos alimentos não aumenta o risco.
  • O foco tem mudado de uns anos a esta parte para outros factores como, por exemplo, a quantidade de proteínas na dieta, o sodio, os oxalatos (nos vegetais), o citrato, a hidratación em general e outras comorbilidades metabólicas.
  • Uma vez que se debute com este tipo de patologia, é importante que tua equipa médica analise a composição dos cálculos porque a cada tipo precisa um tratamento de estilo de vida e farmacológico particular.